querido filho peter...
é... realmente... o colégio militar me trouxe muito sofrimento...
mas... em compensação... durante as férias...
fui naturalmente me enturmando com a garotada da praia...
que morava lá perto de casa...
antes de aprender a surfar...
curti muita praia com essa turma de meninos...
a moda era pegar onda com um par de pés-de-pato...
e... uma pranchinha de madeira de apenas 1 metro de comprimento...
não era o surf ainda...
era apenas o jacaré de pranchinha...
mas era uma delícia...
como a pranchinha era de madeira...
ela deslizava nas ondas bem rápido...
era como se fosse uma espécie de morey-boogie...
só que de madeira...
ao ficar na praia durante os meses de férias...
pegando muita onda com meus amigos...
(mesmo sendo apenas o "jacaré" com as pranchinhas de madeira)...
isso me deu muita familiaridade com o mar...
às vezes o mar estava forte...
mas mesmo assim...
curtíamos nosso "jacaré" com as pranchinhas de madeira...
(elas eram interessantes... pois quando o paredão da onda fechava...
nós conseguíamos furar a onda... mergulhar a onda...
dando uma espécie de "take off"...para trás...
e... isso era possível... pois a prancha... sendo de madeira...
podia facilmente... furar a onda...)
quer dizer... o meu aprendizado do surf...
foi uma coisa natural...
eu não cheguei um dia... de repente... comprei uma prancha...
e me joguei no mar de qualquer jeito...
foi uma processo natural... lento...
com essa experiência de pegar muito jacaré...
com minha turminha de amigos...
aprendemos... juntos... a respeitar o mar...
comentávamos...
"ali tem uma boca...(correnteza)..
será que vai dar para passar...?..."
houve um aprendizado em conjunto...
onde o próprio mar foi nosso mestre principal...
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isso acontecendo nas férias de verão de 1965 para 1966...
como faço anos em janeiro...
tinha acabado de fazer 12 anos de idade...
curtindo umas férias merecidíssimas...
depois de tanta loucura que invadiu a cabeça de um garoto...
de apenas 11 anos de idade...
ao se deparar com um regime tão rígido...
que me foi apresentado pelo colégio...
que eu acabara de ingressar...
só que as tais férias merecidas...
não foram apenas curtidas nas areias...
e no oceano de ipanema...
na rua prudente de moraes...
num edifício quase em frente ao que nós morávamos...
morava também... a família de um antigo amigo meu...
o vítorino...
que sentava vizinho a mim...
naquela escola da minha infância...
aquela... da época em que eu ainda morava na gávea...
na praça do jockey club... pertinho do jardim botânico...
na época em que eu tinha de 7 a 10 anos de idade...
na mesma época em que eu levava minha irmâzinha de bonde...
para a escola...
pois bem... para minha surpresa...
um dia... na esquina lá de casa...
eu e o vítorino nos encontramos...
perguntei...
vítorino...?
e ele...
luis...?
você mora onde...?
aqui do lado...?
pô... não acredito...
verdade...?
aí pronto...
dois amigos de infância descobrem que... agora...
são vizinhos...
mal nos re-encontramos...
ele já me convida para ir passar as férias com ele...
na casa-de-campo que a família dele tem... em teresópolis...
pergunto a minha mãe... se ela deixa...
e... ela... prontamente concorda...
pois desde a época da escola primária...
que minha mãe já sabia que o vítorino...
pertencia a uma família boa...
que não haveria o menor problema de eu ir passar as férias...
com ele na sua casa-de-campo em teresópolis...
fiz minha pequena mala...
lá fomos nós...
eu... o vítorino... seu primo mário...
seu pai... sua mãe...
no carro aero-willis... cor cinza...
dirigido pelo chauffeur... (o motorista particular deles...)
chegamos lá...
uma casinha relativamente simples...
mas gostosa...
aquelas casinhas típicas de teresópolis...
que... na época...
era um lugar muito bom de se passar as férias...
aquele lugar pacato... típico das vilazinhas...
onde ainda se viam... cavalos... soltos pela rua...
uma tranquilidade...
no dia seguinte fomos para o clube onde o vítorino era sócio...
chegando lá fomos pra piscina...
só que... para minha surpresa...
a piscina... não estava sendo usada como um lugar...
onde as pessoas vão nadar...
a piscina era o lugar de encontro...
do vítorino com toda a sua turma...
uma turma unidíssima...
todos já se conheciam...
deviam ser uns vinte... ao todo... aproximadamente...
meninos... meninas...
quase todos com 11... 12... ou... no máximo... 13 anos...
era a turma de judeus do vítorino...
gente interessantíssima...
ao chegarmos na piscina...
ninguém queria saber de nadar...
ficávamos... sentados no chão... batendo altos papos...
"ficávamos"... seria uma força-de-expressão...
não era bem assim...
seria mais correto dizer...
o vítorino ficava batendo altos papos com as meninas...
de biquinis... falavam sobre tudo...
política... artes... cinemas...
fofocas sobre os últimos namôros...
quem estava namorando quem... etc...
eu... completamente deslocado...
ficava... meio perplexo... sem saber...
exatamente o que estava acontecendo...
ainda atordoado com as ordens do sargento...
"ordinário... marcha...!!..."
ficava ali... contemplando a novidade...
tal qual... aos cinco anos de idade...
quando ficava sentado no muro...
vendo os poucos carros passarem...
de repente o vítorino me acorda ... lá na piscina...
pô... luis... chega mais...
vai ficar aí deslocado...?
ao receber esse toque dele...
aí... é que eu ficava mais complexado ainda...
percebia que... infelizmente...
algo errado se passava comigo...
primeiro... que... quase ninguém se interessava por mim...
segundo... que eu... simplesmente...
não estava acostumado com aquele tipo de encontro social...
minha família... nunca tinha me estimulado...
nunca tinha me apresentado...
nunca tinha criado condições para eu ter o hábito...
de poder bater um papo numa roda social daquele tipo...
minha infância foi na rua...
jogando bola com meus amigos...
(ou então... numa sala de aula...
estudando muita matemática... ou coisa parecida...)
eu não estava preparado para encarar uma sofisticação daquele tipo...
aquele grupo do vítorino...
(talvez por ser um grupo só de judeus)...
estava acostumado a ter aqueles encontros sociais...
(talvez... desde pequenos...)
e... eles logo perceberam...
que eu... era meio bicho-do-mato...
mas... se eles não puxavam muito papo comigo...
por outro lado... também... não me tratavam mal...
me respeitavam...
afinal... eu era amigo do vítorino...
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mas... sentado no chão... perto da piscina...
perto do vítorino...
da diana... da sueli...
todas de biquini...
e o papo rolando...
e eu assistindo...
e falando pouquíssimo...
isso não incomodava nem o vítorino... nem a diana... nem a sueli...
mas... me incomodava... profundamente... perceber...
que eu não sabia bater-papo...
hoje em dia... eu compreendo bem os motivos:
(a história da minha vida dos zero aos doze anos...
não havia me preparado para isso...)
mas... naquela hora... ali na piscina...
quando o pessoal me pedia para eu me comunicar mais...
para eu falar mais...
nessas horas... aí é que a tormenta aumentava mais ainda...
é como se eu tivesse um defeito muito grande...
não saber falar...
não saber conversar...
me sentí mal...
me sentia... como se eu fosse um ser-com-defeito...
não um defeito físico...
mas o defeito... de... não saber conversar...
apesar desse mal-estar...
a vida continuava...
de manhã... piscina...
de tarde... festinha...
toda tarde tinha festinha na casa de um deles...
música do roberto carlos...
"estou amando loucamente...
a namoradinha de um amigo meu...
sei que estou errado...
mas nem mesmo sei como isso aconteceu"...
dançávamos juntos...
o rapaz perguntava à menina se ela aceitava dançar com ele...
(normalmente... elas aceitavam...)
dançávamos juntinhos...
quando a menina se interessava pelo rapaz...
o corpo se encaixava melhor...
e... dali para o namoro...
era um pulo...
eu... mesmo com meu complexo de que não sabia conversar direito...
fui... me deixando levar pelo astral...
tirava as meninas para dançar...
dançava com elas...
tentava me exercitar na prática do "saber conversar"...
observava...
achava que poderia aprender...
tentava fazer o que estava ao meu alcance...
tentava me enquadrar...
quem sabe...
um dia talvez... pudesse ter uma namoradinha...
tal qual o vítorino...
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grande abraço...?
grande abraço...
até já...
super abraço em vocês dois...
com muito carinho...
seu pai...
...luis antonio...