...9... filosofando part nine... ( 9 out of 18 )...

querido  filho  tauê...
querido  filho  peter...

a  vida  é  cheia  de  altos  e  baixos...

existem  momentos...  em  nossa  vida...
onde  tudo  parece  estar  vindo  a  baixo...

por  outro  lado...  existem  outras  fases...  em  nossas  vidas...
onde  as  coisas  começam  a  dar  certo...  nos  sentimos  bem...
sentimos  que  nós  estamos  produzindo...
sentimos  que  estamos  nos  relacionando  bem...
com  as  pessoas  próximas  a  nós...

enfim...  que  encontramos...  finalmente...  a  fórmula...
a  receita  de  como  viver  uma  vida  (aproximadamente)  feliz...  etc...

às  vezes  essas  fases  boas  duram  apenas  um  mês...
depois....
pode  vir  uma  fase  meio  ruim  que  pode  durar  alguns  meses...

mas  esses  tempos-de-duração  não  são  fixos...

eles  variam  de  época  para  época...
variam...  dependendo  de  mil-e-um  fatores...

se  a  pessoa  passou  uma  fase  de  sofrimento  muito  prolongada...
normalmente...  a  tendência  é  que  essa  pessoa  virá  a  experimentar...
um  período  de  calmaria...  de  bonança...  de  paz  e  harmonia...

pelo  menos...  comigo...  durante  minha  vida...
a  coisa  se  deu  mais  ou  menos  dessa  forma...
às  vezes...  eu  passava  por  um  período  prolongado  de  doença...
tinha  que  me  cuidar...
sentia  dor...
sofria...

mas...  após  esse  período...
é  como  se  eu  recebesse  uma  espécie  de  compensação...
após  esse  período  de  sofrimento...
normalmente  eu  era  abençoado  com  um  período  de  paz...
tranquilidade...  saúde...
paz  comigo  mesmo...
com  minha  própria  consciência...

uma  das  fases  "brabas"  que  aconteceu  comigo...
foi  quando  cheguei  no  rio  de  janeiro...
vindo  de   recife...
aos  11  anos  de  idade...

o  mês  era  de  julho...
bem  no  meio  do  ano...
morávamos  num  apartamento  na  rua  prudente de moraes...  em  ipanema...

eu  ia  para  uma  escola  muito  louca...
o  colégio  militar  do  rio de janeiro...
na  tijuca...

tinha  que  almoçar  às  10:15 am...
pegar  o  ônibus  433...  barão de drummond - leblon...
que  passava  às  11  horas...
no  ponto-de-ônibus  da  rua  visconde de pirajá...

chegava  no  colégio  por  volta  de  meio-dia...
tinha  que  entrar  em  forma  às  12:20  em  ponto...

"entrar-em-forma"  significa  entrar  naquela  fila...
em  ordem  crescente...  dos  mais  baixinhos  para  os  mais  altos...
cada  turma  era  formada  de  umas  três  filas...
a  distância  de  uma  pessoa  para  a  outra...
era  a  medida  de  um  braço  esticado...

quando  o  sargento  berrava...  "turma cobrir !!..."
nós...  (os  "soldadinhos-de-chumbo")...
obedecíamos  sua  ordem  instantaneamente...
como  se  fôssemos  um  tipo  de  máquina-humana-robotizada...
cuja  função  é  a  de  obedecer  ordens...  sem  pestanejar...

grupamento  sentido  !!...
ordinário  marcha...!!

a  turma...   ( já  toda  em  fila...
num  alinhamento  beirando  a  perfeição )... ao  escutar  a  ordem...
todos  nós  juntos...  numa  perfeição  robotizada...
lançávamos  nossa  perna  esquerda  para  frente...
e...  começávamos  a  marchar...  rumo  à  sala-de-aula...

todos  no  mesmo  passo...
tal  qual  nos  filmes  dos  soldadinhos  de  verdade...

esse  era  o  ambiente  que  encontrei  no  rio de janeiro...
de repente...  me  vejo  incluído  numa  escola...
que  era  a  coisa  mais  louca  do  mundo...
a  turma  de  alunos  ia  marchando  de  uma  sala  para  outra...

no  fundo...  essa  é  a  metodologia  da  filosofia  militar...
muito  antiga...  essa  metodologia...
provavelmente...  muito  antes  da  era  de  cristo...

perceberam  que...  ao  condicionar  um  grupo  de  pessoas  a  marcharem...
como  se  fossem  robôs...
as  pessoas  se  tornariam  autômatas...
não  pensariam...
estariam  prontas  para  obedecer  qualquer  tipo  de  ordem...
mesmo  que  as  tais  ordens  fossem  completamente  absurdas...
e...  non-sense...

mas...  lá...  no  colégio  militar...
essa  filosofia  do  "obedecer-cegamente"...
entrava  numa  certa  contradição...
com  uma  outra  característica  da  escola...

o  ensino  da  escola  era  bom...
o  ensino  era  de  alto-nível...
os  professores  eram  bons...

principalmente  os  de  matemática...  português...  geografia...
inglês...  francês...  etc...

portanto  era  uma  escola  onde  havia  essa  contradição  incrível...
se...  por  um  lado...  o  ensino  era  bom...
a  metodologia  militar...
a  disciplina  militar...
o  deslocamento  da  turma...
marchando  como  se  fôssemos  soldadinhos-de-chumbo...
criava  um  cenário  meio  patético...
onde  se  via  um  monte  de  garotos  dos  11  aos  17  anos...
estudando  numa  espécie  de  "quartel-de-mentirinha"...

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em  contraste  ao  colégio militar...
existia...  nada  mais...  nada  menos...  do  que  um  lugar  chamado...
"arpoador"...

aquela  praia  maravilhosa...
pertinho  de  casa...

e...  naquela  época...
a  água  do  mar  ainda  era  limpa...
a  concentração  urbana  ainda  não  dava  para  poluir  o  mar...

a  moda  do  surf  ainda  estava  começando  no  brasil...
mais  precisamente...  no  arpoador...

certos  garotos  americanos...
pedalavam  suas  bicicletas...
do  leblon...  em  direção  ao  arpoador...

rebocavam  uma  espécie  de  trailerzinho...
atrás  da  bicicleta...
com  aquelas  pranchas...
lindas...
de  fibra-de-vidro...
vindas  da  califórnia...

eram  as  pranchas  de  marca...
"hobbie"..."hanzen"..."gordon-smith"..."greg-noll surfboards"...
"surfboard hawaii"...
entre  outras...

lá  no  arpoador...
nos  dias  crowdeados...
via-se...  no  máximo  umas  vinte  pranchas  dentro  d’água...

não  haviam  apenas  americanos...
os  brasileiros...  também...
já  estavam  começando  a  arrepiar  nas  ondas...

quando  o  mar  subia...
e...  as  ondas  varriam  o  pontão...
era  uma  loucura...
juntava  gente  para  ver  os  caras  arrepiando...

eu...  nos  fins-de-semana...
com  a  cabeça  entupida  de  tanta  matemática...
de  tanto  português...  de  tanta  geografia...
descansava  meus  olhos...
vendo  tanta  beleza...
vendo  aquilo  que  aquele  moço  me  falou  ainda  em  recife...
na  praia  "rio-doce"...

"os  caras  deslizam  nas  ondas...
 em  pé...
 em  pranchas  enormes...
 como  se  estivessem  esquiando...

 ...e... vão  até  a  areia..."

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até  a  próxima...
Deus  proteja  vocês...
estou  com  saudades...
mas  tudo  bem...
sei  que  vocês  vão  vencer...

um  abraço  bem  apertado...
seu  pai...
               ...luis antonio...