querido filho tauê...
querido filho peter...
a vida é cheia de altos e baixos...
existem momentos... em nossa vida...
onde tudo parece estar vindo a baixo...
por outro lado... existem outras fases... em nossas vidas...
onde as coisas começam a dar certo... nos sentimos bem...
sentimos que nós estamos produzindo...
sentimos que estamos nos relacionando bem...
com as pessoas próximas a nós...
enfim... que encontramos... finalmente... a fórmula...
a receita de como viver uma vida (aproximadamente) feliz... etc...
às vezes essas fases boas duram apenas um mês...
depois....
pode vir uma fase meio ruim que pode durar alguns meses...
mas esses tempos-de-duração não são fixos...
eles variam de época para época...
variam... dependendo de mil-e-um fatores...
se a pessoa passou uma fase de sofrimento muito prolongada...
normalmente... a tendência é que essa pessoa virá a experimentar...
um período de calmaria... de bonança... de paz e harmonia...
pelo menos... comigo... durante minha vida...
a coisa se deu mais ou menos dessa forma...
às vezes... eu passava por um período prolongado de doença...
tinha que me cuidar...
sentia dor...
sofria...
mas... após esse período...
é como se eu recebesse uma espécie de compensação...
após esse período de sofrimento...
normalmente eu era abençoado com um período de paz...
tranquilidade... saúde...
paz comigo mesmo...
com minha própria consciência...
uma das fases "brabas" que aconteceu comigo...
foi quando cheguei no rio de janeiro...
vindo de recife...
aos 11 anos de idade...
o mês era de julho...
bem no meio do ano...
morávamos num apartamento na rua prudente de moraes... em ipanema...
eu ia para uma escola muito louca...
o colégio militar do rio de janeiro...
na tijuca...
tinha que almoçar às 10:15 am...
pegar o ônibus 433... barão de drummond - leblon...
que passava às 11 horas...
no ponto-de-ônibus da rua visconde de pirajá...
chegava no colégio por volta de meio-dia...
tinha que entrar em forma às 12:20 em ponto...
"entrar-em-forma" significa entrar naquela fila...
em ordem crescente... dos mais baixinhos para os mais altos...
cada turma era formada de umas três filas...
a distância de uma pessoa para a outra...
era a medida de um braço esticado...
quando o sargento berrava... "turma cobrir !!..."
nós... (os "soldadinhos-de-chumbo")...
obedecíamos sua ordem instantaneamente...
como se fôssemos um tipo de máquina-humana-robotizada...
cuja função é a de obedecer ordens... sem pestanejar...
grupamento sentido !!...
ordinário marcha...!!
a turma... ( já toda em fila...
num alinhamento beirando a perfeição )... ao escutar a ordem...
todos nós juntos... numa perfeição robotizada...
lançávamos nossa perna esquerda para frente...
e... começávamos a marchar... rumo à sala-de-aula...
todos no mesmo passo...
tal qual nos filmes dos soldadinhos de verdade...
esse era o ambiente que encontrei no rio de janeiro...
de repente... me vejo incluído numa escola...
que era a coisa mais louca do mundo...
a turma de alunos ia marchando de uma sala para outra...
no fundo... essa é a metodologia da filosofia militar...
muito antiga... essa metodologia...
provavelmente... muito antes da era de cristo...
perceberam que... ao condicionar um grupo de pessoas a marcharem...
como se fossem robôs...
as pessoas se tornariam autômatas...
não pensariam...
estariam prontas para obedecer qualquer tipo de ordem...
mesmo que as tais ordens fossem completamente absurdas...
e... non-sense...
mas... lá... no colégio militar...
essa filosofia do "obedecer-cegamente"...
entrava numa certa contradição...
com uma outra característica da escola...
o ensino da escola era bom...
o ensino era de alto-nível...
os professores eram bons...
principalmente os de matemática... português... geografia...
inglês... francês... etc...
portanto era uma escola onde havia essa contradição incrível...
se... por um lado... o ensino era bom...
a metodologia militar...
a disciplina militar...
o deslocamento da turma...
marchando como se fôssemos soldadinhos-de-chumbo...
criava um cenário meio patético...
onde se via um monte de garotos dos 11 aos 17 anos...
estudando numa espécie de "quartel-de-mentirinha"...
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em contraste ao colégio militar...
existia... nada mais... nada menos... do que um lugar chamado...
"arpoador"...
aquela praia maravilhosa...
pertinho de casa...
e... naquela época...
a água do mar ainda era limpa...
a concentração urbana ainda não dava para poluir o mar...
a moda do surf ainda estava começando no brasil...
mais precisamente... no arpoador...
certos garotos americanos...
pedalavam suas bicicletas...
do leblon... em direção ao arpoador...
rebocavam uma espécie de trailerzinho...
atrás da bicicleta...
com aquelas pranchas...
lindas...
de fibra-de-vidro...
vindas da califórnia...
eram as pranchas de marca...
"hobbie"..."hanzen"..."gordon-smith"..."greg-noll surfboards"...
"surfboard hawaii"...
entre outras...
lá no arpoador...
nos dias crowdeados...
via-se... no máximo umas vinte pranchas dentro d’água...
não haviam apenas americanos...
os brasileiros... também...
já estavam começando a arrepiar nas ondas...
quando o mar subia...
e... as ondas varriam o pontão...
era uma loucura...
juntava gente para ver os caras arrepiando...
eu... nos fins-de-semana...
com a cabeça entupida de tanta matemática...
de tanto português... de tanta geografia...
descansava meus olhos...
vendo tanta beleza...
vendo aquilo que aquele moço me falou ainda em recife...
na praia "rio-doce"...
"os caras deslizam nas ondas...
em pé...
em pranchas enormes...
como se estivessem esquiando...
...e... vão até a areia..."
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até a próxima...
Deus proteja vocês...
estou com saudades...
mas tudo bem...
sei que vocês vão vencer...
um abraço bem apertado...
seu pai...
...luis antonio...