querido filho peter...
as férias em teresópolis...
apesar de revelarem... pela primeira vez em minha vida...
o problema das dificuldades em me relacionar...
com uma turma sofisticada...
(do tipo que era a turma do vítorino...)...
apesar disso...
essas férias abriram... de certa forma...
novos horizontes para mim...
se... ao chegar em teresópolis...
eu me senti como se as pessoas estivessem me vendo...
como uma espécie de "bicho-do-mato"...
por outro lado... já no final das férias...
eu já me sentia um pouco mais à vontade...
uma coisa a turma tinha de bom... (entre outras coisas boas):
quando um rapaz tirava uma menina para dançar...
(ou seja...
quando o rapaz perguntava se ela queria dançar com ele)...
nunca ví nenhuma delas recusar o pedido...
sempre aceitavam...
mesmo não estando "a fim" do cara...
acho que isso fazia parte da educação delas...
era uma turma onde quase todo mundo era judeu...
a única exceção era eu...
então... no meio dos papos...
eles... diversas vezes... se referiam ao fato de que...
mais cedo ou mais tarde... iriam se casar entre si...
foi então... nessa época... que aprendi (com eles) que...
o judeu só se casa com judeu...
percebi que... talvez... isso pudesse explicar... em parte...
o porque da minha dificuldade em me relacionar com eles...
pode ser que... talvez...
eles não estivessem muito interessados...
em me conhecer mais profundamente...
porque... afinal das contas... eu... não era judeu...
uma forma delicada de me perguntarem se eu era judeu ou não...
era... simplesmente... perguntar... qual o meu sobrenome...
ao responder... "freire"... percebiam que eu não era judeu...
mas... tudo bem...
conforme mencionei num email anterior...
isso não me impedia de participar das atividades do grupo...
ir a festas... etc...
sempre com o vítorino... é claro...
na verdade... o vítorino era meu "passaporte"...
para todo esse mundo interno dos judeus...
eu... ia...
porque ele passava na minha casa para me chamar para ir...
mas... se ele não me chamasse...
eu continuava feliz...
afinal... existia sempre a opção da praia...
do jacaré...
lá no mar...
eu estava livre...
no arpoador...
com o par de pés-de-pato...
a pranchinha de madeira...
descendo altas ondas...
que se formavam no pontão...
lá no mar...
não era necessário me preocupar...
com as "frescuras" das convenções sociais...
não precisava estar vestido...
com aquelas roupas impecáveis de festa...
não precisava estar com uma calça e uma camisa...
passadas a ferro...
não precisava ficar preocupado com frescuras do tipo...
"será que minha roupa está amarrotada...?..."
não precisava ficar preocupado se alguém...
iria estar me observando... nas festas...
observando...
se eu sabia dançar ou não...
se eu sabia conversar ou não...
se eu estava ou não...
agindo de acordo com as regras da boa-etiqueta...
lá no mar...
tudo o que era preciso...
era de um calção-de-banho...
sem frescuras...
eu... o mar...
e as ondas do pontão...
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final de férias...
mês de março...
hora de re-começarem as aulas...
de volta ao colégio militar...
a primeira coisa que tínhamos que fazer...
era ter que ir para o barbeiro...
raspar o cabelo...
máquina zero...
só deixando aquele "cucuruco" na parte de cima...
isso... para mim... é como se fosse uma tortura...
hoje em dia... raspar o cabelo... é uma coisa normal...
mas... naquela época...
na época dos beatles e dos rolling-stones...
na época em que todo mundo usava cabelo-comprido...
o fato de ter que raspar o cabelo com um corte do tipo militar...
era uma tortura para todos nós... alunos do colégio...
apesar de todos esses sentimentos...
naquela idade...
a gente acabava fazendo as coisas sem muita reflexão...
sem muito questionamento...
acabaram as férias...
volta às aulas...
vida normal...
não se discute...
simplesmente nos re-adaptamos à velha rotina...
raspar o cabelo toda semana...
pegar o ônibus 433... barão-de-drumond__leblon...
enfrentar aquele trânsito super-estressante de copacabana...
botafogo... flamengo... lapa... rua-do-riachuelo... etc...
enfurnados dentro da tal "jaqueta" quentíssima...
abotoada até o pescoço...
e... seja o que Deus quiser...
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segundo ano ginasial...
agora... eu já estava me sentindo mais à vontade no colégio...
o colégio já não me assustava tanto...
no ano anterior é que a "barra" tinha sido muito mais pesada...
eu tive que lutar muito...
para poder vencer as dificuldades de adaptação...
os contrastes do colégio de recife para o colégio do rio...
o ensino do rio era bem mais puxado que o de recife...
agora... no segundo ano ginasial...
eu estava mais confortável...
aqueles "fantasmas" do ano anterior...
já haviam praticamente desaparecido...
estava bem mais preparado para acompanhar o ritmo das aulas...
o ensino-puxado típico de colégios bons tipo...
colégio militar... colégio santo inácio... etc...
já não me assustava mais...
pois... ao estudar feito louco para sobreviver...
aos desafios impostos...
pela brusca mudança do nível-de-ensino de recife para o rio...
me tornei... naturalmente...
preparado para acompanhar o ritmo-do-ensino...
de uma forma mais normal... sem muitos traumas...
em resumo...
o ensino... o estudo... já não fazia mais parte...
da minha lista de preocupações-principais...
mas... como eu ainda tinha 12 anos de idade...
e... como... naquela época...
os pais não conversavam muito com os filhos...
sobre assuntos tipo sexo... etc...
nós éramos obrigados a aprender... na rua...
nas conversas dos "clubes-de-esquina"...
um dos temas principais era... naturalmente... sexo...
aquela mulher que entrou no ônibus...
com aquela saia... aquele decote...
esse era o tipo de papo que mais rolava...
entre a turma que pegava o 433...barão-de-drumond__leblon...
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rafael josé rocha pinto... ou simplesmente... rocha-pinto...
era meu amigo principal...
que... juntos... às 11 a.m....
subíamos os três degraus do 433...barão-de-drumond__leblon...
mais tarde... apareceu o jorge perédia... ou melhor... o perédia
que entrou no meio-do-ano...
pois sua família vinha do rio-grande-do-sul...
minha mente ainda estava bem influenciada...
pela tranquilidade das festinhas da turma do vitorino...
onde o pessoal era... de certa forma... educadíssimo...
um nível bom... gente educada... gente fina...
em contraste... ali... no ônibus... rumo ao colégio militar...
na companhia do perédia e do rocha-pinto...
o papo tomava novas dimensões...
os dois combinavam... entre si...
de irem no sábado num daqueles motéis do centro-da-cidade...
para pagar prostitutas para fazer sexo...
na segunda-feira...
o papo que rolava no ônibus era sobre a aventura deles...
eu acompanhava... meio distante... à conversa deles...
apesar da novidade do papo...
eu não me sentia muito atraído àquele tipo de aventura...
torcia... para que eles não me chamassem...
pois eu não iria me sentir muito bem...
pagando uma prostituta para transar comigo...
e... de fato... nesse ponto... eles perceberam...
que minha "praia" era outra... e... portanto...
nem se preocuparam muito em querer me envolver...
e... para minha sorte...
nunca me convidaram para ir com eles...
nos sábados...
aos puteiros dos bairros do centro da cidade...
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se... por um lado... existia a turma finíssima do vítorino...
e... se... por outro lado existia a turminha barra-pesada...
do ônibus barão-de-drummond...
existia... como se estivesse numa espécie de meio-termo...
o meu amigo ronaldo...
morava na vieira souto...
no quarto andar...
na sala tinha um janelão de vidro fumê...
de lá dava para ver o visual desde o leblon até o arpoador...
a família do ronaldo era muito parecida com a minha...
o pai era engenheiro... como meu pai...
a mãe do ronaldo... também era parecida com minha mãe...
todas pra-frentex...
as duas foram umas das primeiras a adotarem a moda...
da mini-saia... que estava surgindo naquela época...
(afinal... era a época dos beatles)...
uma família... que... como a minha...
estava preocupada em dar o melhor para os filhos...
em termos de educação...
(o ronaldo estudava no santo-inácio...)
além disso...
os gostos das duas famílias eram quase coincidentes...
me lembro que...
quando eles ainda moravam na visconde de pirajá...
eu costumava visitar o ronaldo para montar...
junto com ele... aviões da revell...
que era uma marca de brinquedos educativos...
onde montávamos aqueles modêlos em miniatura...
de aviõezinhos de plástico...
além disso... a idade dos filhos deles...
era quase igual à d’agente...
a marisa era da mesma idade que a ana emília...
o ronaldo... era da mesma idade que eu...
a andréa.... da mesma idade que a clarice...
e... o romeu... da mesma idade que o tuípe...
duas famílias muito parecidas...
se encaixavam quase perfeitamente...
já tínhamos ido passar uma semana de páscoa juntos...
em mauá...
numa época em que ninguém conhecia mauá...
numa daquelas pousadinhas de contos-de-fadas...
beirando as águas geladas dos rios de águas-cristalinas...
numa época em que mauá existia...
como uma espécie de suiça-brasileira...
perdida naquelas montanhas...
da fronteira do estado do rio com minas-gerais...
esse passeio em mauá aconteceu há alguns anos atrás...
quando eu ainda tinha nove anos de idade...
antes mesmo de passar meus dez anos de idade em recife...
imerso nas árvores do quintal da minha avó...
esse passeio era coisa do passado...
a montagem dos aviõezinhos da revell com o ronaldo... também...
agora... eu era um rapaz de 12 anos de idade...
já com a cabeça começando a ser preenchida...
com as perplexidades da vida...
o marzão do arpoador...
a loucura da disciplina do colégio militar...
o mundo-novo... revelado pela turma-sofisticada do vitorino...
o sub-mundo... também novo... da turminha "barra-pesada" do ônibus...
domingo à tarde...
não tenho nada pra fazer...
vou dar uma chegadinha lá na casa do ronaldo...
bater um papo com ele...
chamar pra fazer alguma coisa...
chamar pra brincar...
(apesar de já ter 12 anos de idade...)
atravesso a rua prudente-de-moraes...
vou caminhando pela farme-de-amoedo...
chegando na esquina da farme com a vieira-souto...
dobro à direita rumo ao prédio recém-construído...
que o pai... agora...
no cargo importantíssimo de secretário-de-obras...
acabara de construir...
um prédio novinho...
com os azulejos azuis...
revestindo a parte externa...
chego lá...
pego o elevador...
quarto andar...
saindo do elevador...
não tem êrro...
a porta do apartamento fica logo em frente à porta do elevador...
não tem êrro...
pois o prédio é daqueles que tem um apartamento por andar...
toco a campainha...
poucos segundos depois me aparece a marisa...
irmã mais velha do ronaldo...
com 13 anos de idade...
pergunto...
o ronaldo tá aí...?
não...
mas pode entrar...
entra...
eu... no domingo à tarde...
sem ter nada o que fazer...
procurando o ronaldo pra brincar...
entro...
me dirigo diretamente para o janelão da sala...
de vidro fumê...
com vista panorâmica do leblon pro arpoador...
ando até o janelão...
olho o mar...
e... a marisa...
começa a falar comigo...
meio rindo...
meio achando... meio engraçado... o meu cabelo do colégio miltar...
como nós do colégio militar...
tínhamos trauma de ter que raspar o cabelo...
nós para compensar...
tínhamos o costume de deixar a parte de cima bem grande...
(já que não éramos obrigados a cortar a parte de cima do cabelo...)
então.... o que acontecia...
ficávamos com a parte lateral raspadinha à máquina zero...
e... em compensação a parte de cima ficava enorme...
em resumo... ficava aquele troço meio desproporcional...
a parte lateral zerada...
e a parte de cima... tipo aquela peruca enorme...
apesar da desproporcionalidade...
optávamos por deixar crescer bastante a parte superior do cabelo...
que era uma maneira de podermos usufruir...
da pequena "liberdade" de poder deixar crescer...
pelo menos a parte de cima...
(afinal era a época dos beatles... e dos rolling-stones...)
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muito bem estávamos... eu e a marisa...
no janelão da sala...
e... ela... completamente louca de vontade de fazer algo comigo...
qualquer coisa...
ela não sabia por onde começar...
ela queria me tocar...
alguma coisa...
começou a me pentear...
falou que era engraçado o meu cabelo...
me chamou para ver televisão...
numa salinha especial só para televisão...
sentamos para ver a televisão...
ficamos lá um tempinho...
de repente... me levanto e digo...
"bem... já que o ronaldo não está...
vou-me embora..."
e... ela diz...
fica mais um pouco...
e... aí eu digo...
"mas o ronaldo não está...
é melhor eu ir embora..."
aí ela me leva na porta...
ainda tenta ver se eu mudo de idéia...
antes de fechar a porta...
me olha com aquela cara de sedução...
mas... eu... não percebendo exatamente o que estava se passando...
chamo o elevador...
(mesmo com ela me olhando com a porta entre-aberta...)
dou "tchau"... e... vou-me embora...
já na rua...
percebendo meu vacilo...
tenho vontade de voltar lá...
mas... penso...
não... já saí...
agora... deixa pra lá...
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cerca de um ano mais tarde...
(quando eu já tinha uma prancha-de-fibra-de-vidro...)
na praia super-lotada de ipanema...
bem em frente ao prédio dela...
o mar pequeno...
com umas marolas de 10 centímetros de altura...
ela nada até mim... (e a prancha...)
e pede para dar uma carona para ela...
vamos remando até o fundo...
ela na minha frente...
eu atrás...
remando...
sentindo suas coxas...
seu bum-bum gostosão...
naquele biquini...
na hora em que ficávamos esperando a onda...
(que não existia naquele dia...)
nós dois sentávamos na prancha...
ela... sentada na minha frente...
eu... sentado atrás dela...
como se estivéssemos... ambos... na sela de um cavalo...
mas... mesmo assim...
minha timidez...
meu bloqueio...
não me permitia sentar de forma...
a encostar meu corpo no corpo dela...
mas na hora da remada...
deitados...
ela na minha frente...
era impossível...
evitar que meu braço raspasse em suas coxas...
abertas...
meu nariz...
inevitavelmente encostando na sua bunda...
numa posição meio desconfortável para o pescoço...
que acabava cedendo à irresistível vontade...
de fazer de seu bum-bum... aquele travesseiro ideal...
onde... por umas duas vezes...
me rendi à tentação de... finalmente...
descansar minha cabeça... de perfil...
naquela bunda tão sensual...
acompanhada de suas coxas...
volumosamente perfeitas...
douradas pelo bronzeador "rayito-de-sol"...
importado diretamente da argentina...
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um episódio raríssimo...
naquela fase da minha vida...
tal qual uma pessoa morrendo de sede no deserto...
nossa vida era uma escassez total de mulheres...
vivíamos no colégio militar...
onde a matrícula de garotas era proibida...
(hoje em dia... o colégio evoluiu... nesse sentido...
hoje em dia... é um colégio... misto...
aberto tanto para meninos como para meninas...)
aqueles dois lances que aconteceram...
(ou melhor... que não aconteceram...)...
com a marisa...
foram dois lances... que...
dias depois... (ou meses depois...)
despertaram em mim... um profundo sentimento de arrependimento...
(..."pô... que idiota... que babaca...
será que não percebi que ela estava a fim...
de curtir uns sarrinhos comigo...?
principalmente...
naquele lance em que ela estava sozinha no apartamento...
louca de vontade de curtir...
umas sacanagenzinhas comigo...?..."...)
eu não me perdoava...
babaca...
babaca...
vacilão...
a escassez de uma vida sexual...
a escassez de uma namoradinha...
isso... permeou minha vida...
durante toda a adolescência...
morria de tesão...
morria de vontade de ter uma namoradinha...
mas não tinha ninguém...
até o dia em que apareceu a fabiana...
aos 18 anos de idade...
minha primeira namorada...
(de verdade... com sexo... e tudo...)
a fabiana...
que tive uma relação muito boa...
muito tranquila...
muito saudável...
mas... isso só aconteceu...
quando eu já tinha 18 anos de idade...
dos 12 aos 18... foi aquela escassez...
em termos de relacionamentos... de namoros...
mas... muita coisa rolou nessa época...
muito estudo...
muito surf...
muita novidade...
muitas outras descobertas rolaram nessa fase...
meu professor de piano...
a repentina mudança do colégio militar...
para o colégio-de-burguês "andrews"...
(aos 14 anos....)
as influências do meu amigo richard e de sua mãe...
ao me introduzirem à filosofia do gandhi...
a turminha da minha irmã clarice...
com suas amigas de 12 anos... enquanto eu tinha 16...
(turma essa... da qual a carolina fazia parte...)
a minha viagem de 7 meses para os estados unidos...
para estudar um semestre no high-school...
numa turma de soft-more...
aos 15 anos de idade...
estudando muita física...
e... aprendendo inglês...
de um modo que nunca mais esqueci...
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até a próxima...?
até a próxima...
um super-abraço em vocês dois...?
um super-abraço em vocês dois...
até já...
um grande abraço...
seu pai...
...luis antonio...