...querido filho peter...
ao descrever... no último email...
o quanto eu agradeço à minha mãe...
por ter tido o carinho e a habilidade...
de me motivar a ter gosto pelos estudos...
ao descrever isso... ficou faltando dizer... que...
nesse processo de "tomar gosto pelos estudos"...
existe uma fase de transição... uma fase meio "dolorosa"...
uma fase onde a criança sofre...
ao perceber que é difícil se conformar em aceitar...
a ideia de abrir- mão da vida inocente-infantil...
e partir para uma vida mais "dolorosa"...
típica das primeiras fases do aprendizado...
essa transição se deu justamente naquela época...
aos dez anos de idade... na rua amélia...
onde eu estava curtindo muito...
poder andar com os pés descalços na terra...
no meio das arvores da casa de minha avó...
(em contra- posição àquela vida dentro de um apartamento...
na época do rio de janeiro...)
meus pais e meus irmãos tinham chegado do rio para a rua amélia...
em recife...
bem no meio das férias grandes de verão...
(ou seja... dezembro, janeiro, fevereiro...
já que o verão aqui no hemisfério-sul...
acontece no período oposto aí do hemisfério norte...)
como eles tinham chegado bem no meio das férias de verão...
e... como minha mãe viu que eu ficava o dia inteiro sem fazer nada...
resolveu me botar para estudar... nas férias...
falou que era para eu sentar na mesa da sala...
me deu um caderno... lápis e borracha...
e disse que era para eu... todos os dias...
fazer uns cinquenta ou setenta exercícios de matemática...
de um livro de matemática... chamado "Ary Quintella"...
(que era o nome do autor...)
... nao acreditei no que estava acontecendo...
eu...?... passar minhas ferias estudando aquelas drogas de exercícios...?
pô... que tortura.... que ideia mais maluca...
sentei naquela cadeira em frente daquele caderno... daquele livro...
me deu um "mal-estar"...
uma vontade de reclamar...
por que logo eu... ?
ter que estudar...?
logo nas férias...?
minha mãe notou o meu desespero...
e... tranquilamente... pegou o rascunho...
e... começou a me explicar os exercícios...
e... a partir dessa explicação...
vi que eu tinha condições de ir fazendo os outros exercícios...
então... o que antes parecia uma tortura...
passou a ser uma coisa boa... um prazer...
comecei a fazer os outros exercícios...
como se fosse uma atividade boa... um jogo... uma diversão...
em resumo... essa é a magica do prazer-de-estudar...
depois que o aluno recebe um "empurrãozinho" de alguém...
depois disso... o estudante percebe...
que é capaz de caminhar-com-as-próprias-pernas...
e... essa sensação de independência...
lhe dá um bem-estar...
uma vontade de continuar caminhando...
se desenvolvendo...
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naquela época o ensino brasileiro se dividia em três etapas...
1... o primário... dos 6 aos 10 anos de idade
2... o ginásio.... dos 11 aos 14 anos...
3... o científico... dos 15 aos 17 anos...
normalmente... aos 18 anos... a pessoa estava tentando...
fazer a prova do vestibular... para tentar entrar pra faculdade...
como se tratava de uma prova muito difícil...
normalmente os alunos se matriculavam nos famosos "cursinhos"...
que eram pequenas escolas avulsas...
especializadas em preparar o pessoal para o vestibular...
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muito bem...
mas... por que é que estou falando sobre isso tudo...?
porque naquela época... como eu tinha dez anos de idade...
eu estava bem na fronteira entre o primário e o ginásio...
dependendo do nível da escola ginasial que o aluno pretendia ingressar...
dependendo da escola...
se a escola fosse "puxada"... com um nível de ensino bom...
ela exigia do aluno que estava querendo entrar la´...
que ele se submetesse a um exame de admissão...
que... normalmente... era difícil...
(é como se fosse uma espécie de vestibularzinho...
só que do primário para o ginásio...
ao invés do científico para a faculdade...)
então... um dia vi uns garotos passando na rua com um uniforme...
pareciam fantasiados de soldadinhos...
com aquele uniforme cor marrom-claro...
duas listras verticais vermelhas acompanhando a calca-comprida...
e aquele chapeuzinho vermelho....
o famoso "cap" tipo aquelas aeromoças...
só que vermelho... combinando com as listras vermelhas da calça...
achei aquilo o máximo...
crianças...
fantasiadas de soldadinhos de verdade...
perguntei a minha mãe que uniforme era aquele...
ela me explicou que era dos alunos do colégio-militar...
uma escola boa... com um ensino bom...
perguntou se eu gostaria de tentar fazer a prova de admissão para lá...
disse que sim...
bastante contente de saber que eu iria entrar numa escola...
onde o uniforme dos alunos era igual ao dos soldados de verdade...
e assim começou uma nova trajetória na minha vida...
onde... mais tarde... passei a me arrepender muitíssimo...
dessa (infeliz) ideia de querer entrar para uma escola...
onde os alunos se fantasiavam de soldadinhos-de-chumbo...
com o "cap" vermelho...
ficamos por aqui...
meus queridos filhos...
ficam com Deus...
tudo de bom...
super-abraço...
seu pai...
...luis antonio...