querido filho tauê...
querido filho peter...
até agora... venho tentando seguir uma ordem cronológica...
na narrativa que conta a história da minha vida...
mas não sei se é necessário seguir uma ordem...
rigidamente cronológica...
ao invés de contar...
tudo o que aconteceu quando eu tinha 11 anos de idade...
depois... com 12...
depois com 13... etc... etc...
talvez... fosse mais interessante...
tentar dar umas puladas...
que não tivessem que seguir...
necessariamente...
a ordem cronológica dos fatos...
de repente poderíamos adotar uma narrativa...
onde dos 12 anos de idade...
pulássemos para os 18...
depois para os 24...
depois... de volta para os 16...
desta forma...
nos libertaríamos da obrigatoriedade de ter que seguir...
... à risca... um esquema rígido para a narrativa dos eventos...
não precisaríamos seguir a mesma ordem em que tais eventos...
teriam acontecido na vida real...
a vantagem dessa "libertação" da ordem...
é que...
se... por acaso... na vida real...
uma sequência de três anos...
foi... numa fase meio... monótona...
então... naturalmente...
a narrativa se tornaria igualmente monótona...
e... variando no tempo...
tornaria a narrativa mais variada...
e... portanto... menos monótona...
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mas... quanto a certos "saltos" no tempo...
não devemos nos preocupar com certos fatos interessantes...
que possam ter sido omitidos...
pois... se... na narrativa relativa aos 24 anos...
houver a necessidade de voltar aos 16...
podemos... tranquilamente... fazer um trabalho tipo sanfona...
podemos ir... e vir...
podemos avançar no tempo...
e recuar...
com isso... nos libertamos da camisa-de-força...
de uma narrativa linear...
de uma narrativa cronológica...
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então vamos inaugurar nossa nova liberdade...?
vamos lá...
(dessa vez... o pulo vai ser pequenino...
vou dar um pulinho apenas dos 12 para os 14 anos de idade...)
então vamos lá...
quatorze anos de idade...
nessa idade...
adeus ipanema...
já havíamos nos mudado de ipanema para o jardim-botânico...
perto do parque-lage...
entre o parque-lage e o humaitá...
no pé da montanha que vai dar no cristo...
no corcovado...
é como se morássemos debaixo do braço direito do cristo...
numa ruazinha chamada " j. carlos "...
falávamos "moro na rua "jota-carlos"..."
jota-carlos era um desenhista... caricaturista... jornalista...
da década dos 1940... ou 50 ou 60...
por aí... não sei direito...
e... como ele assinava suas caricaturas nos jornais...
abreviando o primeiro nome...
a rua... ao homenageá-lo...
adotou seu nome " j. carlos "...
para ficar de acordo com o nome em que ele era conhecido...
mas... todo esse bla-bla-blá em torno do jota-carlos...
não tem a menor importância...
mencionei... em detalhes... a origem do nome da rua...
pois... quando eu... minha mãe... minhas irmãs... e o tuípe...
hoje em dia... quando estamos re-memorando fatos daquela época...
nos referimos à época da jota-carlos...
que durou... no meu caso...
dos 14 aos 22 anos-de-idade...
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quatorze anos de idade...
recém-chegados à rua jota-carlos...
minha mãe... felicíssima...
mostrava o casarão enorme que tinha comprado...
ela e meu pai... venderam o apartamento de ipanema...
e... compraram essa casa de dois andares...
mas... se incluir o espaço do telhado...
que ainda tinha uma área de cobertura...
e um cubículo que o tuípe adotou como seu quarto...
se considerarmos esse terceiro estágio...
a casa poderia ser classificada como de três andares...
e... como o andar-térreo da casa já ficava a uns dois metros...
acima do nível da calçada-da-rua...
e... a garagem no nível da rua...
e... como a garagem já era uma espécie de mini- estúdio...
a casa... com esse novo "approach" já poderia ser dita...
que era uma casa de quatro-andares...
mas... é claro... o nível da garagem...
e o nível da cobertura... eram níveis secundários...
não se poderia comparar...
com os dois super- níveis da casa principal...
essa era a casa da "jota-carlos"...
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minha mãe... orgulhosa... transbordando de felicidade...
ao mostrar a nova casa para um casal de amigos deles...
contava para eles...
o que um outro casal de amigos havia comentado...
"... léa...
voce ainda pensou duas vezes antes de fechar o negócio...?
... que maravilha... que espetáculo de casa..."...
realmente... uma coisa era certa...
uma coisa a casa tinha a oferecer...
muito conforto...
era espaçosa...
era grande...
tinha muitos quartos...
ao ponto de cada filho ter um quarto...
e... ainda sobrava um mini-quarto para minha avó...
vovó zenaide...
mãe da minha mãe...
minha avó... passava o dia no quartinho dela...
vendo televisão...
eu... na época da jota-carlos...
já havia...( graças a Deus...)
já havia me libertado daquele colégio torturante...
o colégio militar...
meus pais tiveram o bom-senso de me tirarem de lá...
e de me matricularem no andrews...
um colégio da alta-sociedade do rio...
onde... por coincidência...
imaginem quem...?
isso mesmo... onde o vitorino estudava lá...
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saio de um colégio rude... grosseiro...
onde não havia nada de fino... de delicado...
e... de repente...
me vejo dentro de um colégio de burgueses...
onde a fina nata do rio frequentava...
e... essa mudança... no início... fundiu um pouco minha cuca...
mas... tudo bem...
viva o andrews...
fora com o colégio militar...
mas... não quero também "cuspir-no-prato-que-comi"...
o colégio militar me trouxe... também... coisas boas...
o ensino era bom...
aprendi uma matemática de alto nível...
além disso... conforme foi observado em emails anteriores...
o colégio militar me proporcionou a oportunidade de conhecer...
vários tipos de pessoas...
pessoas bem-educadas...
e pessoas com um outro tipo de educação...
que não era dos mais finos... não...
e... isso é bom...
acho que para que possamos sobreviver nesse mundo...
é bom poder ter tido a oportunidade de ter conhecido...
o "leque" diversificado dos vários tipos de pessoas...
que existem no mundo...
com a experiência... com o decorrer dos anos...
e... com a oportunidade de ter convivido...
com vários tipos de pessoas...
isso deve ajudar à nossa percepção de quem é quem...
ao ter tido a oportunidade de ter convivido com a malandragem...
isso nos ajuda a poder visualizar quem é quem...
isso nos ajuda a poder identificar o malandro...
a identificar a pessoa não-tão-bem-intencionada assim...
pois a malandragem já não seria algo novo para nós...
pois... já teríamos a oportunidade de vê-los de perto...
de conviver com eles...
de saber como eles pensam...
como eles agem...
e... de finalmente...
poder comparar a visão-de-mundo deles com a nossa...
e... poder ter elementos para decidir...
qual é o melhor caminho para nós...
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mas isso não significa que ter convivido apenas com a malandragem...
seja... por si só... algo bom...
é preciso também... ter convivido com as pessoas finas...
com as pessoas educadas...
é preciso ter tido contato com todos os níveis...
pois... senão... ficamos sem opção... sem escolha...
nesse ponto... eu me considero sortudo...
conheci vários tipos de pessoas...
os bons... e os ruins...
o vítorino... era inteligente...
ele percebia que... nesse ponto...
a educação que meus pais tentavam me dar era muito boa...
desde criança... meus pais me deixavam meio largado na rua...
sabiam que a rua tinha muito a me ensinar...
(que nem eu... ao deixar vocês meio largados na vila...
... na turma do juninho... do grissa... do diógenes...)
o vitorino era inteligente...
percebia que... nesse ponto... meu estilo-de-vida era....
... talvez... mais saudável que o dele...
eu vivia na rua...
encarando altos mares no arpoador...
com meus amigos... "moleques"...
mais tarde...
quando eu já morava na jota-carlos...
quando eu já havia... (graças a Deus...) largado o colégio militar...
e... estava estudando no andrews...
eu continuava frequentando a turma do rocha-pinto na lagoa...
agora... morando na jota-carlos...
e... minha turma morando na lagoa...
já não dava mais para ir visitá-los a pé...
tinha que pegar o ônibus...
mas... mesmo... tendo que pegar o ônibus...
valia a pena...
lá... eu continuava...
à vontade com meus amigos tipo rocha-pinto e companhia-limitada...
me sentia à vontade...
sem ter que me "enquadrar" nas "frescuras" impostas pelo novo estilo...
do meu novo colégio-de-burguês...
o andrews...
em resumo...
minha vida foi... basicamente...
um eterno esforço de adaptação...
adaptação ao "susto" de ter entrado num colégio super- neurótico...
tipo colégio-militar...
adaptação ao novo colégio-de-burguês... o andrews...
cheio de suas novas frescuras...
de suas novas regrinhas-sociais...
suas etiquetas ditadas pela fina nata da alta sociedade carioca...
mas... esse tipo de "susto"...
dessa vez...
não me "assustou" tanto...
já tinha passado por uma experiência semelhante...
aos 11 anos de idade nas férias em teresópolis...
com a turma do vitorino...
dessa vez...
ao entrar no andrews...
no meio do ano...
como sendo um aluno novo...
dessa vez...
não me senti tão mal assim...
dessa vez...
já tinha recebido as lições básicas...
das etiquetas-sociais...
na época de teresópolis...
dessa vez...
a coisa estava mais sob controle...
mas... mesmo assim...
a tensão... natural...
decorrente da sensação de ser um aluno-novo... num ambiente-novo...
completamente diferente do colégio militar...
foi intensa...
mas... conforme observei...
o choque dessa vez... foi mais tranquilo...
foi mais suave...
me adaptei mais rapidamente...
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até já...
espero emails de vocês...
me contando detalhes de como estão as coisas indo por aí...
até já...
um super-super-abraço...
nesse primeiro dia do ano...
um grande abraço...
seu pai...
...luis antonio...