querido filho tauê...
querido filho peter...
a minha avó zenaide... ( mãe da minha mãe )...
acho que vocês... não devem se lembrar muito dela... não...
pois quando ela faleceu...
você... ( peter )... era apenas um bebê... recém-nascido...
e você... ( tauê ) devia ter uns três anos-de-idade...
como a diferença-de-idade entre vocês...
é de dois-anos-e-meio...
então se nessa época... você ( peter ) tinha...
digamos... 6 meses de idade...
ou seja... meio-ano de idade...
então... consequentemente... você ( tauê ) teria...
exatos 3 anos-de-idade...
( já que... dois-e-meio... mais... meio... resulta em... três...)
mas... deixando a matemática de lado...
e... voltando ao "menu-principal"... ( minha avó...)...
...era uma pessoa...
que tenho... muito boas recordações...
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quando eu tinha... cerca de 13 anos-de-idade...
e... minha família havia se mudado de ipanema...
para a casa de dois-andares-imensa...
no jardim-botânico...
eu tinha meu quarto...
a clarice tinha o quarto dela...
a ana emília tinha o quarto dela...
o tuípe dormia num quartinho-mínimo...
lá no terceiro-andar...
( onde... praticamente não havia nada...
...apenas o telhado-da-casa...
...uma área onde eu estudava... numa mesinha...
...que coloquei lá...
...para poder estudar e tomar-banho-de-sol... simultaneamente...
...e um lugar ínfimo...
onde o tuípe se instalou lá... para dormir...)
( daí eu ter dito... anteriormente...
...que a casa tinha... apenas dois-andares...
... mas se contarmos com os níveis-extras...
...da cobertura ( telhado )
...e da garagem...
...neste caso... a casa acabava tendo...
...ao todo... quatro-níveis...)...
mas isso tudo não tinha a menor importância...
minha mãe... adorava o fato de ter encontrado tal casa...
quando... ainda morando em ipanema...
meus pais resolveram se mudar... para um lugar mais tranquilo...
( jardim botânico )...
já que meu pai... não conseguia dormir...
com aquele barulho de ônibus infernal...
da rua prudente-de-morais...
eu... por ter apenas 13 anos-de-idade...
simplesmente me mudei...
junto com a família...
a família se muda...
a criança de 13 anos-de-idade... não discute...
vai na onda...
vai no embalo....
sem pensar muito...
...em nada...
...simplesmente... acompanha...
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depois que nos mudamos...
aí sim...
percebi a "canoa-furada"...
em que... sem querer... fui levado...
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nessa época...
eu estava no auge do surf...
estava numa fase onde...
o surf era... digamos... "a razão do meu viver"...
meus músculos já estavam desenvolvidos para descer nas altas
ondas do arpoador...
quando batia o vento sudoeste...
o posto-cinco... em copacabana... ficava... "perfeito"...
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antes da mudança... de ipanema para o jardim-botânico...
tudo o que eu precisava fazer... era colocar a prancha
debaixo-do-braço...
atravessar a prudente-de-morais... a... vieira-souto...
e... pronto.. já estava na praia...
agora... depois da mudança...
era uma dificuldade imensa... poder chegar na praia...
tinha que esperar o ônibus...
para me transportar do jardim-botânico... para ipanema...
tinha que deixar a prancha na casa do meu amigo ronaldo...
que permitiu que eu deixasse a prancha na garagem do prédio dele...
a prancha tinha que ser acorrentada com um cadeado especial...
em volta da quilha...
enfim...
tinha que passar por uma série-de-obstáculos...
que antes não existiam...
mas... o pior deles...
era ter que pegar o ônibus para ir pra praia...
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hoje em dia...
percebo... ao escrever essas linhas...
como... toda essa "infelicidade"... que eu sentia... na época...
não passa de uma "infelicidade" de um menino-mimado...
"mimado" no sentido de ter tido sempre tudo...
e... por ter tido... simplesmente...
a experiência de ter se mudado...
para uma casa um pouquinho mais afastada da praia...
num bairro... onde era necessário "pegar-o-ônibus"...
para ir pra praia...
o fato dessa pequena "perda-de-qualidade-de-vida"...
ter me feito sentir...
como o "cara-mais-infeliz-do-mundo"...
...me faz refletir...
hoje-em-dia... como minha personalidade...
de certa forma... pouco mudou...
mesmo hoje...
com 57 anos na cara...
eu... de certa forma...
continuo... conservando... tais características...
de garoto-mimado...
ao sentir... tão sensivelmente...
o contraste da qualidade-de-vida...
que eu tinha no hawaii...
com a que encontrei no nosso ( querido (?) )...
brasil...
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então...
se pensarmos... direitinho...
vemos que... no fundo... no fundo...
a vida está... constantemente... nos apresentando...
...mudanças...
e... obviamente... sentimos na pele...
suas consequências....
( boas... ou más )...
talvez... um dos "segredos" da arte-do-bom-viver...
seja... procurarmos ver o lado-bom que a mudança...
poderia nos proporcionar...
e... consequentemente...
sabermos explorar...
... e.. desenvolver... esse lado-bom que...
conseguimos enxergar...
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e... voltando à minha avó zenaide...
ela morava num quartinho...
na tal casa-que-minha-mãe-adorava....
e... que eu sofria... ( um pouco )...
com a perda do mar-de-ipanema...
ali... na esquina...
minha vòzinha... zenaide...
pessoa muito boa...
de um coração... muito bom...
ficava horas...
tentando desmanchar... pacientemente...
os nós do meu cabelo...
que chegavam nos ombros...
afinal.... estávamos vivendo na era dos... beatles...
rolling stones... jimi hendrix... etc...
eu... com meus cabelos nos ombros...
depois do banho...
só mesmo minha avó...
com aquela paciência infinita...
para desembaraçá-los...
ia destrinchando os nós...
e... ao mesmo tempo...
conversando...
conversando...
conversas-sem-fim...
contando estórias...
eu... escutando suas estórias...
e... simultaneamente...
sentindo nos cabelos...
seu acariciar...
através do pente...
me sentia feliz...
de ter uma avó... assim...
tão boa...
que me queria... tão bem...
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quando ela faleceu...
eu já não morava mais com ela...
morávamos todos...
já em ipanema...
você ( tauê )...
com três anos de idade...
você ( peter )...
com apenas meio-ano de idade...
eu...
estudando no impa...
( instituto de matemática pura e aplicada )...
me encontrava numa fase da minha vida...
onde eu estava... muitíssimo satisfeito...
profissionalmente...
pois estava fazendo meu mestrado...
ganhando um salário do governo...
só para estudar...
e... isso... foi o que eu sempre quis...
ser pago pelo governo... para estudar...
( que é o que eu... realmente... gosto de fazer...
... do ponto-de-vista... profissional...)
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muito bem...
estava eu... no impa...
concentrado nos meus estudos...
quando...
a bibliotecária... me chamou...
dizendo que tinha um recado para me dizer:
" minha avó... tinha falecido "...
fui para o enterro...
no cemitério de botafogo...
uma pequena multidão estava lá...
amigos do meu pai...
da minha mãe...
parentes da minha mãe...
...da minha avó...
parentes de parentes....
amigos de amigos...
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quando lá cheguei...
não tive a coragem de vê-la...
no caixão...
fiquei do lado de fora...
ao encontrar minha mãe...
abracei minha mãe...
e... caí num chôro...
um chôro compulsivo...
descontrolado...
chorava em voz alta...
não conseguia me controlar...
saí de lá...
fui pra casa...
ao chegar em casa...
peguei um banquinho...
fiquei debruçado no berço...
onde... você ( peter )...
dormia...
...um sono inocente...
sem saber o que estava se passando... em volta...
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de repente...
chegam meus pais... para me visitar...
chegam...
e me encontram debruçado...
sobre o berço...
ficaram alguns minutos...
..e... foram embora...
gostei da visita deles...
raramente eles iam me visitar...
foi boa... a visita deles...
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me despeço...
com carinho...
um grande abraço...
seu pai...
...luis antonio...