querido filho tauê...
querido filho peter...
pois é...
nessa de achar o uniformezinho bonitinho...
quem se deu mal... fui eu...
entrei na maior "canoa furada"...
nunca fiz uma burrice tão grande na minha vida...
mas só percebi isso...
quando estava mais ou menos no final do segundo-ano ginasial...
(com 12 anos de idade...)
e principalmente... no inicio do terceiro-ano...(com 13 anos...)
quando eu entrei para o colégio militar...
eu ainda morava em recife (rua amélia)...
estudei lá apenas na primeira metade do primeiro-ano...
em julho...(ferias-de-inverno daqui...)
nos mudamos de volta para o rio de janeiro...
mais precisamente para ipanema...
para um apartamento na rua prudente de morais...
(a primeira rua paralela à rua da praia...)
um apartamento... que meu pai acabara de comprar...
ao chegarmos no rio...
a minha transferência do colégio militar do recife...
para o colégio militar do rio de janeiro...
era do tipo... transferência-automática...
ou seja... eu não teria que fazer o tal do exame-de-admissão...
que... para os colégios militares era sempre muito difícil...
pois... eu já havia passado no exame-de-admissão em recife...
há seis meses atrás...
essa prova de admissão era tão difícil...
que... ainda em recife...
minha mãe havia me colocado num cursinho...
especializado em exames de admissão para o colégio militar...
então... com dez anos de idade...
eu já estava num curso especializado...
em fazer provas para o exame de admissão...
em outras palavras...
desde muito cedo... entrei num esquemão de muita responsabilidade...
de muita disciplina... de muito estudo...
de muita preocupação...
hoje em dia... refletindo sobre tudo isso..
vejo que... o que aconteceu comigo...
(o fato de... muito cedo carregar muita responsabilidade nas costas...)
apresenta vantagens e desvantagens...
a vantagem é que... (apesar de muito cedo)...
fui me preparando academicamente...
estudando muito...
o que... obviamente... tem suas vantagens...
a desvantagem é que... uma criança de dez anos...
se não brincar...
acaba descontando essa falta...
anos mais tarde...
mais velho...
e... possivelmente... isso... talvez... tenha acontecido comigo...
quando aos quarenta-e-quatro anos de idade...
no hawaii...
fico horas e horas tocando violão nas escadarias da...
university of hawaii at manoa...
(tudo bem... bola pra frente...)
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julho de 1965... onze anos de idade...
o primeiro semestre do colégio militar de recife... já feito...
tudo pronto para nos mudarmos de recife de volta para o rio de janeiro...
para se despedir de recife...
meu tio marcos... (irmão do meu pai...)... carolina... e filhos...
me convidam para passar uma semana com eles numa casinha de pescadores...
que eles alugaram em rio-doce...
(uma praia afastada da cidade...
para curtir uma semana de praia numa vilazinha de pescadores...
...(rio-doce)...
(que hoje em dia não tem mais nada a ver...
com aquela vila-de-pescadores de antigamente...
passou a ser um bairro super-populoso de olinda...
que por sua vez...
pode ser considerada como uma continuação ininterrupta de recife...
tornando-se tudo uma espécie de megalópole...)
anyway... eles alugaram essa cabaninha de praia...
e me convidaram para passar minha ultima semana de recife com eles...
lá em rio-doce...
lá fui eu...
tranquilo...
um astral muito legal...
uma família muito unida...
muito harmoniosa...
sempre me trataram muito bem...
à noite... aquele céu maravilhoso...
meu tio... (sempre na rede)...
comenta comigo como aquelas estrelas eram lindas...
já que não havia luz elétrica...
e... as estrelas ficam ainda mais bonitas...
já que não existe iluminação nos postes-de-rua...
de manhã cedinho...
eu gostava de acordar cedo...
e ir tomar um banho-de-mar...
sozinho... naquele mar infinito do nordeste...
levava uma prancha de isopor tipo morey-boogie...
que eu havia ganhado recentemente...
mas nunca tinha usado...
(não tinha nunca pego nenhuma onda na minha vida...)
(nem sabia o que era isso...)
como aqui no nordeste as ondas são... em geral... muito pequeninas...
eu costumava ir... bem cedinho...
e ficava curtindo remar em cima da prancha...
deitado em cima da prancha...
remava... naquela água bem fresquinha da manhã...
explorando aquelas piscininhas naturais... etc...
nos dois últimos dias...
o mar resolveu me presentear...
com umas marolinhas ótimas...
que poderiam nos empurrar...(eu e a prancha)...por uns vinte metros...
a primeira onda foi inacreditável...
que maravilha...
sentir a onda me empurrando... deitado em cima da prancha...
por cerca de vinte metros... ou mais...
que sensação divina...
que prazer...
nunca havia sentido nada tão bom...
aí eu curti de montão...
peguei varias ondas...
pegava elas... já estouradas...
era mais fácil...
para quem nunca tinha pego...
na areia... conversei com um moço...
(acho que era algum parente ou amigo do meu tio...)
ao comentar com ele que eu tinha adorado poder "pegar- jacaré..."
(que era o nome que todo mundo dava ao surf de peito...
ou então... ao que usa pranchinhas tipo a que eu estava usando...)
o moço me disse que no rio de janeiro eles fazem isso...
só que... em pé... em cima da prancha...
falei pra ele...
"em pé... na prancha...?"
e ele respondia...
"...é... como se fosse esquiando...
eles tem uma prancha enorme...
e deslizam na onda até a areia..."
fiquei fascinado...
devia ser muito bom mesmo...
sem dúvida... eu queria ir para o rio de janeiro...
queria ver de perto...
as pessoas deslizando em pé...
sobre as ondas...
numa prancha enorme...
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ficamos por aqui...?
acho melhor... sim...
pois senão... não vai sobrar mais nada para depois...
um abraço bem apertado...
em vocês dois...
espero que a saúde esteja boa...
ficam com Deus...
até já...
um grande abraço...
seu pai...
...luis antonio...