...8... filosofando part eight... ( 8 out of 18 )...


querido  filho  tauê...
querido  filho  peter...

pois  é...
nessa  de  achar  o  uniformezinho  bonitinho...
quem  se  deu  mal...  fui  eu...

entrei  na  maior  "canoa  furada"...
nunca  fiz  uma  burrice  tão  grande  na  minha  vida...

mas  só  percebi  isso...
quando  estava  mais  ou  menos  no  final  do  segundo-ano  ginasial...
(com  12  anos  de  idade...)
e  principalmente...  no  inicio  do  terceiro-ano...(com 13 anos...)

quando  eu  entrei  para  o  colégio  militar...
eu  ainda  morava  em  recife  (rua amélia)...
estudei  lá  apenas  na  primeira  metade  do  primeiro-ano...

em  julho...(ferias-de-inverno  daqui...)
nos  mudamos  de  volta  para  o  rio de janeiro...
mais  precisamente  para  ipanema...
para  um  apartamento  na  rua  prudente  de  morais...
(a  primeira  rua  paralela  à  rua  da  praia...)
um  apartamento...  que  meu  pai  acabara  de  comprar...

ao  chegarmos  no  rio...
a  minha  transferência  do  colégio  militar  do  recife...
para  o  colégio  militar  do  rio de janeiro...
era  do  tipo...  transferência-automática...
ou  seja...  eu  não  teria  que  fazer  o  tal  do  exame-de-admissão...
que...  para  os  colégios  militares  era  sempre  muito  difícil...

pois...  eu  já  havia  passado  no  exame-de-admissão  em  recife...
há  seis  meses  atrás...

essa  prova  de  admissão  era  tão  difícil...
que...  ainda  em  recife...
minha  mãe  havia  me  colocado  num  cursinho...
especializado  em  exames  de  admissão  para  o  colégio  militar...

então...  com  dez  anos  de  idade...
eu  já  estava  num  curso  especializado...
em  fazer  provas  para  o  exame  de  admissão...

em  outras  palavras...
desde  muito  cedo...  entrei  num  esquemão  de  muita  responsabilidade...
de  muita  disciplina...  de  muito  estudo...
de  muita  preocupação...

hoje  em  dia...  refletindo  sobre  tudo  isso..
vejo  que...  o  que  aconteceu  comigo...
(o  fato  de...  muito  cedo  carregar  muita  responsabilidade  nas  costas...)
apresenta  vantagens  e  desvantagens...

a  vantagem  é  que...  (apesar  de  muito  cedo)...
fui  me  preparando  academicamente...
estudando  muito...
o  que...  obviamente...  tem  suas  vantagens...

a  desvantagem  é  que...  uma  criança  de  dez  anos...
se  não  brincar...
acaba  descontando  essa  falta...
anos  mais  tarde...
mais  velho...

e...  possivelmente...  isso...  talvez...  tenha  acontecido  comigo...
quando  aos  quarenta-e-quatro  anos  de  idade...
no  hawaii...
fico  horas  e  horas  tocando  violão  nas  escadarias  da...
university  of  hawaii  at  manoa...

(tudo  bem...  bola  pra  frente...)

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julho  de  1965...  onze  anos  de  idade...
o  primeiro  semestre  do  colégio  militar  de  recife...  já  feito...
tudo  pronto  para  nos  mudarmos  de  recife  de  volta  para  o  rio de janeiro...

para  se  despedir  de  recife...
meu  tio  marcos...  (irmão  do  meu  pai...)...  carolina...  e  filhos...
me  convidam  para  passar  uma  semana  com  eles  numa  casinha  de  pescadores...
que  eles  alugaram  em  rio-doce...
(uma  praia  afastada  da  cidade...
para  curtir  uma  semana  de  praia  numa  vilazinha  de  pescadores...
...(rio-doce)...
(que  hoje  em  dia  não  tem  mais  nada  a  ver...
com  aquela  vila-de-pescadores  de  antigamente...
passou  a  ser  um  bairro  super-populoso  de  olinda...
que  por  sua  vez...
pode  ser  considerada  como  uma  continuação  ininterrupta  de  recife...
tornando-se  tudo  uma  espécie  de  megalópole...)

anyway...  eles  alugaram  essa  cabaninha  de  praia...
e  me  convidaram  para  passar  minha  ultima  semana  de  recife  com  eles...
lá  em  rio-doce...
lá  fui  eu...
tranquilo...
um  astral  muito  legal...
uma  família  muito  unida...
muito  harmoniosa...
sempre  me  trataram  muito  bem...

à  noite...  aquele  céu  maravilhoso...
meu  tio...  (sempre  na  rede)...
comenta  comigo  como  aquelas  estrelas  eram  lindas...
já  que  não  havia  luz  elétrica...
e...  as  estrelas  ficam  ainda  mais  bonitas...
já  que  não  existe  iluminação  nos  postes-de-rua...

de  manhã  cedinho...
eu  gostava  de  acordar  cedo...
e  ir  tomar  um  banho-de-mar...
sozinho...  naquele  mar  infinito  do  nordeste...

levava  uma  prancha  de  isopor  tipo  morey-boogie...
que  eu  havia  ganhado  recentemente...
mas  nunca  tinha  usado...
(não  tinha  nunca  pego  nenhuma  onda  na  minha  vida...)
(nem  sabia  o  que  era  isso...)

como  aqui  no  nordeste  as  ondas  são...  em  geral...  muito  pequeninas...
eu  costumava  ir...  bem  cedinho...
e  ficava  curtindo  remar  em  cima  da  prancha...
deitado  em  cima  da  prancha...
remava...  naquela  água  bem  fresquinha  da  manhã...
explorando  aquelas  piscininhas  naturais...  etc...

nos  dois  últimos  dias...
o  mar  resolveu  me  presentear...
com  umas  marolinhas  ótimas...
que  poderiam  nos  empurrar...(eu  e  a  prancha)...por  uns  vinte  metros...

a  primeira  onda  foi  inacreditável...
que  maravilha...
sentir  a  onda  me  empurrando...  deitado  em  cima  da  prancha...
por  cerca  de  vinte  metros...  ou  mais...
que  sensação  divina...
que  prazer...
nunca  havia  sentido  nada  tão  bom...

aí  eu  curti  de  montão...
peguei  varias  ondas...
pegava  elas...  já  estouradas...
era  mais  fácil...
para  quem  nunca  tinha  pego...

na  areia...  conversei  com  um  moço...
(acho  que  era  algum  parente  ou  amigo  do  meu  tio...)
ao  comentar  com  ele  que  eu  tinha  adorado  poder  "pegar- jacaré..."
(que  era  o  nome  que  todo  mundo  dava  ao  surf  de  peito...
 ou  então...  ao  que  usa  pranchinhas  tipo  a  que  eu  estava  usando...)
o  moço  me  disse  que  no  rio de janeiro  eles  fazem  isso...
só  que...  em  pé...  em  cima  da  prancha...

falei  pra  ele...
"em  pé...  na  prancha...?"

e  ele  respondia...
"...é...  como  se  fosse  esquiando...
 eles  tem  uma  prancha  enorme...
 e  deslizam  na  onda  até  a  areia..."

fiquei  fascinado...

devia  ser  muito  bom  mesmo...
sem  dúvida...  eu  queria  ir  para  o  rio de janeiro...

queria  ver  de  perto...
as  pessoas  deslizando  em  pé...
sobre  as  ondas...
numa  prancha  enorme...

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ficamos  por  aqui...?
acho  melhor...  sim...
pois  senão...  não  vai  sobrar  mais  nada  para  depois...

um  abraço  bem  apertado...
em  vocês  dois...

espero  que  a  saúde  esteja  boa...
ficam  com  Deus...

até  já...
um  grande  abraço...
seu  pai...
               ...luis antonio...