querido filho tauê...
querido filho peter...
minha família tinha chegado em recife...
na rua amélia...
a casa... cheia de árvores... dos meus avós...
junto com a família... veio a mania do meu pai...
de adorar a natação...
assim que chegou em recife...
uma das primeiras coisas que ele fez...
foi colocar eu e a ana emilia na natação...
do clube português...
um clube que ficava a cerca de um quilômetro lá de casa...
então... tudo mudou na minha vida...
o enfoque não estava mais direcionado às árvores...
eu tinha que ir para o colégio de manhã...
e... à tarde para o clube português...
para praticar natação...
a vida continuava tranquila...
apesar das atividades...
nadar no nordeste...
era bem mais prazeroso do que nadar no rio de janeiro...
a água do rio... era bem mais gelada...
em recife... era aquela água gostosa...
e... nos dias quentes...
a natação torna-se até um prazer...
minha irmã ana emilia...
já estava dando sinais de que ela tinha um bom potencial...
para ser uma espécie de campeã de natação...
essa mania de natação que meu pai nos envolveu já era antiga...
antes mesmo de irmos para recife... ainda no rio...
eu e a ana emília já nadávamos no botafogo...
e... desde aquela época...
me lembro bem do primeiro dia em que meu pai nos levou lá...
no botafogo para nos apresentar ao técnico de natação...
tinham dois técnicos...
um era o técnico argentino... que se chamava "Carranza"...
e... o outro era o técnico dos nadadores de segunda-linha...
(que não tinham muito futuro... em termos de campeonato...)
esse técnico dos iniciantes se chamava..."Rui"...
Aí meu pai me levou junto com minha irmã... lá no botafogo...
fala com o técnico Carranza...
eu e minha irmã... caímos na piscina...
demos uma nadadinha para o técnico nos avaliar...
e... ai´ o técnico Carranza fala pro meu pai...
..."é obvio... ela...(ana emilia )... fica comigo"...
e... neste ponto ficou uma dúvida... naturalmente... parada no ar...
"... e... quanto a ele...?"... alguém perguntou...
ai´ o Carranza responde...
ele... (é obvio...) vai pro Rui...
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ficou aquela coisa meio estranha no ar...
porque... afinal...
qual era a diferença fundamental entre eu e minha irmã...?
talvez porque eu tinha um par de pernas finas demais...?
não sei...
a coisa foi colocada de uma forma... como se não houvesse dúvidas...
"a ana emilia... obviamente... vai ser minha aluna...
mas esse (ratinho ai´...)... é óbvio.... vai pro Rui..."
nada disso foi dito... é claro...
mas... o jeito com que ele falou...
"ele...? ... vai pro Rui..."
o jeito com que ele falou... foi mais ou menos significando isso...
que eu ... obviamente não tinha as condições físicas...
necessárias para me tornar um campeão...
seria uma "burrice"...
um desperdício pensar que eu poderia ser um dia campeão...
mas... eu não levei nada disso muito a sério...
fui pro Rui...
minha irmã foi pro Carranza...
treinávamos todos os dias...
ainda no rio... no botafogo... antes...
um ou dois anos antes de nos mudarmos para recife...
um frio danado...
era meio tortura termos que enfrentar esse frio...
principalmente nas horas do "tiro"...
onde nadávamos a piscina de 25 metros... dando o máximo de velocidade...
depois saiamos da piscina para entrar na fila...
para nadar novamente mais um tiro de 25...
saía d´água... entrava na fila... etc...
nessa de sair da água e entrar na fila é que batia o frio brabo...
por causa do vento...
então... deslocando essa estória da piscina gelada do botafogo...
no rio de janeiro...
para a piscina do clube português em recife...
com aquela temperatura super- agradável...
que só uma piscina numa região de muito calor como o nordeste...
pode oferecer... ah... então valeu...
a natação no recife era algo bom... era algo prazeroso...
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minha mãe resolve comprar um piano usado...
coloca lá na casa da rua amélia...
me ensinou a tocar uma música italiana...
curti... de montão...
aos sábados à tarde tinha umas festinhas de dança no clube português...
agente ia lá ... dançava... com as outras pessoas da natação...
era legal...
um dia... uma garota começou a me beijar...
meu pai viu e me deu uma bronca...
(fiquei meio sem graça...)
anos mais tarde... quando meu pai já estava fazendo psico-terapia...
ele me pedia que eu contasse cenas do passado entre eu e ele...
quando contei o lance do clube português...
ele ... apesar de não se lembrar do lance...
ficou super- surpreso consigo próprio...
sem entender porque ele teria dado aquela bronca...
(como se tivesse feito uma burrice danada...)
a minha relação com meu pai... não era muito frequente...
a gente não se encontrava muitas vezes...
isso era devido ao fato de ele trabalhar muito...
estava sempre trabalhando de montão...
e... quando chegava em casa...
normalmente... estava cansado...
já com minha mãe era diferente...
durante toda a minha vida...
sempre tive muito papo com ela...
ela... além de contar estórias...
sabia ensinar de uma maneira que não dava mais para esquecer...
me ensinou a matemática básica...
como resolver problemas de matemática...
português... geografia... inglês...
sentava comigo em frente a um toca-discos...
e escutávamos o disco dos beatles...
onde ela ia traduzindo para mim...
o significado das canções...
o disco era o sargent pepper´s lonely heart club band...
eu ia lendo a letra impressa no verso da capa do "long-play"...
(em inglês)...
e ela ia me explicando o significado em português...
na música... "a day in the life..."
onde eles cantam...
I read the news today oh boy
About a lucky man who made the grade
And though the news was rather sad
Well I just had to laugh...
ela me explicava que a expressão "made the grade"...
estava... ali naquele contexto... significando... "conseguiu passar"...
no sentido de "conseguiu passar para a outra dimensão"...
ou seja... "morreu"...
e... assim... eu ia recebendo dela... todos esses ensinamentos...
de uma forma tranquila...
aprendendo... não só o inglês...
mas várias outras matérias...
depois que recebia esse empurrão inicial dela...
a partir daí... eu ia aprendendo por mim mesmo...
desta forma... passei a sentir prazer ao estudar...
tomei gosto pelos estudos...
mesmo porque... percebi...
que o estudo... é como se fosse uma chave...
que dá acesso a novos horizontes...
por exemplo...
atualmente... domino bem o português... e o inglês...
mas... se algum dia... eu quiser ir... por exemplo... à europa...
ou alguma ilha colonizada pelos franceses...
se... eu me antecipar... e começar a estudar o francês... desde já...
esse conhecimento... me daria condições...
de me comunicar com pessoas desses países que só sabem o francês...
(por exemplo)...
em outras palavras... o conhecimento nos permite acessar pessoas...
lugares... de uma forma bem mais plena...
de uma forma bem mais profunda...
mas isso não quer dizer que possamos saber...
todos os conhecimentos do mundo...
isso... obviamente é impossível...
mas... com a ajuda da minha mãe...
comecei a sentir gosto pelos estudos...
comecei a sentir... que eu era capaz de pegar um livro...
lê-lo.. entende-lo...e curtir os ensinamentos apreendidos no livro...
com o tempo... percebi... também... que nem todos os livros são bons...
é preciso saber escolher... o que vale a pena investir a atenção...
e o que não merece nossa atenção...
vou parando por aqui...
deixando... desde já um...
enorme... enormessíssimo...
bem apertado...
super-abraço...
em vocês dois...
até já...
se agasalhem bastante...
que o frio está chegando...
um grande abraço...
seu pai...
...luis antonio...